segunda-feira, 4 de maio de 2009

Mario Quintana


Este mês me dedicarei a expor alguns dos trechos de autoria desse senhor tão simpático e interessante: Mario Quintana.

Em alguns momentos deixarei uma frase. E estava pensando sobre isso, sobre o tamanho, a quantidade sendo sinônimo de qualidade, de importância. Quanto maior, melhor.
Recentemente algumas amigas e eu saimos para comprar um presente para outra amiga. Após andar bastante, decidimos que comprariamos um brinco e um prendedor de cabelo.
O que você pensou ao ler essa ultima frase? Será que foi algo do tipo: "andaram tanto para comprar isso?", "para dar esse presente valeria a pena andar mais um pouco" etc. Caso você não tenha pensado, nós pensamos mais ou menos isso. Ficamos questionando o que ela acharia de ganhar um presente que tinha o tamanho inversamente proporcional ao valor, mas que a primeira vista parecia tão singelo. Nesse momento me dei conta do quanto parece relevante o tamanho. Seja o tamanho do gesto ou o tamanho do presente.
Para comprovar e relembrar que uma palavra pode ser mais intensa que um texto enorme, e que um texto enorme tambem pode ser tão intenso quanto uma frase é que tentarei mesclar dos dois. O que fará diferença será a sua leitura, o seu momento, o conteudo, enfim algo que não dá para prever. Entao... para começar...
"DA OBSERVAÇÃO
Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio…"
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sábado, 28 de março de 2009


Lembro-me bem das vezes em que passava férias na casa de uma tia, cuja casa tinha uma piscina com 2 metros de profundidade. Eu, nanica e medrosa, colocava a bóia, o colete salva-vidas, amarrava uma cordinha no colete e na escada da piscina e não desgrudava da escada por nada. Foram vários anos assim. Meus primos? Pulavam de costas, rodopiavam, desciam no escorrego, nadavam de um lado para o outro, enfim, aproveitavam cada centímetro daquele lugar.
Com o tempo, fui ficando interessada em provar daquela diversão que eles gozavam tão facilmente. Sempre hesitante, de início tentava me descolar da escada. Depois de muito tentar o q consegui foi me afastar 30 centímetros da escada e segurar na borda. Até que com muito custo fui me afastando mais, ainda com a corda me prendendo a escada e ao colete e claro que com as bóias nos braços. A cordinha tinha função de me alertar até onde podia ir.
Foi difícil, mas com mais anos passando, consegui me libertar da cordinha no colete. Embora me sentisse muito insegura e desprotegida, afinal, contar com a proteção do colete e das bóias não me parecia muito prudente. Mas com hesitação que me é natural, oscilava entre soltar a escada e explorar um pouco mais a extensão da piscina ou fi(n)car parasitamente na escada.
Um grande medo me assolava e tentava me prender, embora muitas vezes já nem soubesse mais o que estava temendo. Parecia ter criado o medo do medo. E nesse conflito constante, às vezes retrocedia, mas em passos curtos, conseguia me libertar. Confesso que em muitos momentos meus primos não me ajudavam muito, sempre ameaçando me jogar na piscina sem “proteção”, me puxando para o fundo, enfim, valendo-se de sua segurança e sem temer o que para mim eram os mistérios da piscina, eles quase que me torturavam.
Encurtando essa minha história, pois se foi cansativo viver isso, não precisar se tornar também cansativo a sua leitura, fui deixando a escada, ganhando confiança não sei bem em que, mas confiava que podia soltar a escada. Depois me vi tirando o colete, até que... as bóias ficaram. Sentia-me literalmente mais leve. Literalmente um peso saía de meus ombros. Conseguia até sentir mais água molhar o meu corpo.
Enquanto ficava grudada na escada decidia em que momento mergulhar a cabeça e me molhar. Com a liberdade que ia adquirindo percebia que não controlava totalmente o limite entre a água e o meu corpo. Cada vez mais tornava-me parte da água e a água parte de mim. Nossos movimentos fluíam e conduzia um ao outro. Como num passe de dança, que por mais que você não saiba todos os passos que o(a) companheiro(a) fará, é levado mesmo assim a se movimentar em sintonia com o corpo dele(a).
Foi necessário mais um tempo para que tirasse a bóia. Tirei e aí sim conheci a liberdade plena. Hoje eu pulo, mergulho...o que estiver ao meu alcance eu faço. A escada foi muito importante para mim, uma companheira fiel. Não me abandonava, ou melhor, eu não a abandonava de maneira nenhuma. Mas embora ela me permitisse estar ali, pois era através dela que me sentia segura, ela me engessava. Era bom tê-la, mas me pergunto: como seria não tê-la? Ela me proporcionava o que imaginava precisar, quando na verdade me apartava do que realmente necessitava: a liberdade.
O colete e a bóia vieram em complemento a segurança dada pela escada. Eram importantes, mas eram menos paralisadores. Com eles podia ao menos flutuar.
Alem do medo real de me afogar, enquanto criança, minhas primas e eu, criamos um medo fantasioso. Tínhamos por lei não ultrapassar a metade da piscina a noite. Acreditávamos que poderíamos encontrar tubarões, fantasmas, coisas não identificadas. Até hoje há quem prefira não arriscar.
Bom, histórias do passado são sempre boas de se relembrar. Essa é uma dessas que vale a pena passar a diante. Não é engraçada, nem alegre, nem triste...mas pode nos levar a refletir sobre muitas coisas. Medo! Liberdade! Atitude!
Apesar de considerar o medo algo necessário, sei que em algumas situações esse medo extrapola o limite, deixando de ser saudável. Para uns ele é algo instintivo, sob um ponto de vista evolucionista ele é necessário para nossa sobrevivência, outros acreditam que ele é adquirido e incorporado com relação a cultura.
Mas o que eu observo é que desde criança somos submetidos a situações em que nossos familiares, amigos (amigos?rs), músicas etc parecem nos treinar para ter medo. Quem nunca ouviu “Boi, boi boi, boi da cara preta pega essa criança que tem medo de careta”, “O homem do saco vai te pegar...”, enfim, são tantas ameaças.
Sinceramente, com tanta investida, não considero muito difícil entender o por que é tão comum sentir medo, e medo de coisas que não passam de criações de nossa mente fértil e temerosa.
Quem tem medo do lobo mau? Todos nós! Seja lá o que for o meu ou o seu lobo mau. Mas a despeito do medo, tornar-se livre está sempre ao nosso alcance. Depende de nós: ficar na escada ou misturar-se com a água.
...continua...

Débora E. N. Lomba

sábado, 21 de março de 2009

Elogio da Dialética

A injustiça passeia pelas ruas com passos seguros.
Os dominadores se estabelecem por dez mil anos.
Só a força os garante.
Tudo ficará como está.
Nenhuma voz se levanta além da voz dos dominadores.
No mercado da exploração se diz em voz alta:
Agora acaba de começar:E entre os oprimidos muitos dizem:
Não se realizará jamais o que queremos!
O que ainda vive não diga: jamais!
O seguro não é seguro.Como está não ficará.
Quando os dominadores falarem falarão também os dominados.
Quem se atreve a dizer: jamais?
De quem depende a continuação desse domínio?
De quem depende a sua destruição?
Igualmente de nós.
Os caídos que se levantem!
Os que estão perdidos que lutem!
Quem reconhece a situação como pode calar-se?
Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.
E o "hoje" nascerá do "jamais".

Bertold Brecht

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A paixão segundo GH

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· “...minhas previsões condicionavam de antemão o que eu veria”[p17]
· "Entender é uma criação”[p21]
· “Não minto para formar verdades falsas. Mas usei demais as verdades como pretexto.”[p27]
· “...tenho que tomar cuidado de não confundir defeitos com verdades”[p27]
· “Meu grito foi tão abafado que só pelo silêncio contrastante percebi que não havia gritado.O grito ficara me batendo dentro do peito”[p47]
· “Mas meu medo não era o de quem estivesse indo para a loucura, e sim para uma verdade - meu medo era o de ter uma verdade que eu viesse a não querer...”[p60]
· “...se eu nunca revelar minha carência, ninguém se assustará comigo e me ajudarão sem saber...”[p62/63]
· “...a vida em mim é tão insistente que se me partirem, como a uma lagartixa, os pedaços continuarão estremecendo e se mexendo”[p65]
· “O mundo só não me amedrontaria se eu passasse a ser o mundo”[91]

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sábado, 14 de fevereiro de 2009

A paixão segundo G. H.



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“...arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo”[p12]
“A idéia que eu fazia de pessoa vinha de minha terceira perna, daquela que me plantava no chão” [p12]
“Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo – quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar a desorientação” [p12/13]

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domingo, 8 de fevereiro de 2009

A paixão segundo G.H.

No meu ultimo aniversário, ganhei um presente muito precioso, de pessoas muito mais preciosas. É que temos o hábito de bolar alguma surpresa para cada uma das integrantes do grupo (que vem a cada dia crescendo mais e mais =D). Nessa ocasião, ganhei de início uma caixa vazia. É isso mesmo, uma caixa sem nada! Sinceramente, gosto muito de caixas e até tinha gostado da idéia...foi quando...uma senhora que segurava uma bolsa lindaaaa [branca com varias joaninhas] entregou para uma das meninas, que então, me deu, rindo horrores da minha cara que ainda estava sob o efeito do presente mais inusitado que já ganhara. Bom, nem preciso dizer que passaram o dia inteiro rindo de mim, ne? Essa é a desvantagem de ter amigas palhaças!!! rs [brincadeirinha].
Depois disso abri ansiosamente a bolsa e encontrei vários presentes dentro: uma caixa porta jóias, desta vez, alem de ser da Pucca, dentro de cada uma das varias gavetinhas tinha uma ou duas cartinhas!!! Nossa, entrei em êxtase!!!Tanta cartinha junta e todas endereçadas a mim!!! Foi maravilhoso, mas não termina aí...resolvi ler tudo em casa e partir para o outro presente. Pelo tamanho, parecia ser um livro (elas sabem que amo e sempre me dão um) e para a minha surpresa era nada mais nada menos que um livro da minha musa CLARICE LISPECTOR. Para melhorar mais ainda era o livro A paixão segundo G. H. \o/
Bom, com um presente tão interessante, que foi devorado em pouco tempo, pretendo dividir com vocês durante esse mês algumas frases que me chamaram muita atenção e que me proporcionaram boas reflexões.O que acham?

Seguem as primeiras:

“Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais.Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável” [p11]

“Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar.Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar” [p12]

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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A chuva




Hoje percebi o quanto eu gosto de chuva, não de tempo chuvoso, mas da chuva que cai.Pode parecer meio ilógico essa afirmação afinal, como gostar da chuva e não do tempo chuvoso?Tentarei explicar, antes pretendo expor um pouco da minha historia com a chuva.
Lembro-me que certa vez ao acordar e ouvir o barulho da chuva caindo delicadamente no chão dei um pulo da cama e corri até a varanda para apreciar a beleza que é assistir a chuva.Parei na porta e fiquei olhando até que vagarosamente fui me aproximando e então me dei conta da atitude impulsiva e ingênua que tive.Parecia a primeira vez que a ouvia e via.Cheguei a pensar que fora tolice de minha parte, chuva é algo tão comum e tão normal, não tinha motivo para tanto alarde.Acredito que até mesmo você que se propôs ler esse texto esteja concordando com esse pensamento, mas logo me dei conta que é essa mesma ingenuidade que faz das coisas simples e comum do cotidiano, coisas especiais e diferentes a cada vez que se vivencia.Nos perdemos nos afazeres do nosso dia, corremos de um lado para o outro executando as tarefas que estabelecemos e deixamos o dia, o mês, o ano, a vida passar.
Há quem pense que felicidade é algo a se alcançar, a se buscar, penso que felicidade é viver, que não está em algo a ser atingido, mas no que tenho e vivo.É estar atento ao que nos cerca, perceber que sol, chuva, vento...fazem parte do nosso dia, mas que não são menos importantes, pelo contrario, deveríamos atribuir a eles um grande valor, pois nos acompanham a cada dia e nem mesmo somos agradecidos.Pelo contrário, se chove reclamamos da chuva, se faz calor, do sol.Não proponho que façamos uma celebração para cultuá-los, mas que nos permitamos sentir o que eles tem a nos oferecer, seja o seu calor, o refrigério, ou o que quer que nos tragam.
Amo sentir a chuva correndo pelo meu corpo, amo deixar a chuva me banhar, sentir que não tenho controle para faze-la parar ou aumentar, mas simplesmente me deixar ser coberta pelos seus pingos gelados, mas que aquecem.Nessas horas me pergunto quem foi que inventou a marquise ou até mesmo o guarda-chuva.Por que se proteger da chuva, como se ela fosse nos ferir?Acredito que ficamos resfriados ao pegar chuva não porque ela nos faça mal, mas porque não nos acostumamos com ela, estamos sempre a evitando.
Recentemente li um livro que discorria sobre a Modernidade e enumerava algumas características que considero ainda presentes, tais como manter o controle das situações através da ordem, contemplar o futuro e renegar o presente, dentre outras.Infelizmente podemos observar dia após dia como isso se faz presente em nossas atitudes.Como nos deixamos nos envolver com essa proposta, o quanto desejamos controlar as coisas e ou outros, o quanto pensamos no futuro, planejamos, mas não celebramos o que está diante de nós: o presente.
Vivemos numa sociedade capitalista e sabemos a “importância” que há em presentear pessoas especiais, principalmente nessa época de final de ano.Existem varias épocas do ano marcadas por esse ritual: aniversários, natal, páscoa, dia dos namorados etc.Logo, sabemos o significado do presente.Sabemos que traz felicidade para as pessoas, realiza sonhos.Por que será que não lidamos com o nosso presente como um presente?O que nos impede de pular de alegria ao ver a chuva, ao andar pelas ruas, ao ser surpreendida pelo vento que nos lasca um beijo na face?
Poderia seguir o mesmo raciocínio do parágrafo anterior, jogando a culpa nos costumes da modernidade que nos influenciou (e de fato ainda influencia) mas não acho que ajude muito pensar no por que sem pensar em como mudar.Sem contar que por mais que tenhamos sido influenciados devemos, ao invés de querer controlar as coisas e as pessoas, começar a controlar a única coisa que temos por direito: nossa vida.Portanto, se um dia for atropelado por uma borboleta dê adeus a ela, ou melhor, um até logo.Se a chuva te pegar desarmado, não reclame dela, agradeça pela oportunidade de ser banhado com as suas gotas.
Tentando responder a pergunta inicial, ao falar do tempo chuvoso pensamos na lama que fica na rua, nos lugares que podem ser alagados, na escova que não pode cair sequer uma gotinha enfim, todo um contexto se forma em nossa mente.E, por mais que para que esse contexto aconteça seja necessário a presença da chuva, ela é somente um dos elementos que causa todo esse “transtorno”.Ela é um elemento que aliada a outros constituem o tempo chuvoso.Daí ser possível pensar numa diferença entre estes.Com isso, é a chuva que me fascina.São seus pingos.Sua delicadeza, mas também sua impetuosidade.Sua chegada sem aviso.Sua graça que encanta e limpa a quem se permite.Simplesmente a chuva que molha.