quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A chuva




Hoje percebi o quanto eu gosto de chuva, não de tempo chuvoso, mas da chuva que cai.Pode parecer meio ilógico essa afirmação afinal, como gostar da chuva e não do tempo chuvoso?Tentarei explicar, antes pretendo expor um pouco da minha historia com a chuva.
Lembro-me que certa vez ao acordar e ouvir o barulho da chuva caindo delicadamente no chão dei um pulo da cama e corri até a varanda para apreciar a beleza que é assistir a chuva.Parei na porta e fiquei olhando até que vagarosamente fui me aproximando e então me dei conta da atitude impulsiva e ingênua que tive.Parecia a primeira vez que a ouvia e via.Cheguei a pensar que fora tolice de minha parte, chuva é algo tão comum e tão normal, não tinha motivo para tanto alarde.Acredito que até mesmo você que se propôs ler esse texto esteja concordando com esse pensamento, mas logo me dei conta que é essa mesma ingenuidade que faz das coisas simples e comum do cotidiano, coisas especiais e diferentes a cada vez que se vivencia.Nos perdemos nos afazeres do nosso dia, corremos de um lado para o outro executando as tarefas que estabelecemos e deixamos o dia, o mês, o ano, a vida passar.
Há quem pense que felicidade é algo a se alcançar, a se buscar, penso que felicidade é viver, que não está em algo a ser atingido, mas no que tenho e vivo.É estar atento ao que nos cerca, perceber que sol, chuva, vento...fazem parte do nosso dia, mas que não são menos importantes, pelo contrario, deveríamos atribuir a eles um grande valor, pois nos acompanham a cada dia e nem mesmo somos agradecidos.Pelo contrário, se chove reclamamos da chuva, se faz calor, do sol.Não proponho que façamos uma celebração para cultuá-los, mas que nos permitamos sentir o que eles tem a nos oferecer, seja o seu calor, o refrigério, ou o que quer que nos tragam.
Amo sentir a chuva correndo pelo meu corpo, amo deixar a chuva me banhar, sentir que não tenho controle para faze-la parar ou aumentar, mas simplesmente me deixar ser coberta pelos seus pingos gelados, mas que aquecem.Nessas horas me pergunto quem foi que inventou a marquise ou até mesmo o guarda-chuva.Por que se proteger da chuva, como se ela fosse nos ferir?Acredito que ficamos resfriados ao pegar chuva não porque ela nos faça mal, mas porque não nos acostumamos com ela, estamos sempre a evitando.
Recentemente li um livro que discorria sobre a Modernidade e enumerava algumas características que considero ainda presentes, tais como manter o controle das situações através da ordem, contemplar o futuro e renegar o presente, dentre outras.Infelizmente podemos observar dia após dia como isso se faz presente em nossas atitudes.Como nos deixamos nos envolver com essa proposta, o quanto desejamos controlar as coisas e ou outros, o quanto pensamos no futuro, planejamos, mas não celebramos o que está diante de nós: o presente.
Vivemos numa sociedade capitalista e sabemos a “importância” que há em presentear pessoas especiais, principalmente nessa época de final de ano.Existem varias épocas do ano marcadas por esse ritual: aniversários, natal, páscoa, dia dos namorados etc.Logo, sabemos o significado do presente.Sabemos que traz felicidade para as pessoas, realiza sonhos.Por que será que não lidamos com o nosso presente como um presente?O que nos impede de pular de alegria ao ver a chuva, ao andar pelas ruas, ao ser surpreendida pelo vento que nos lasca um beijo na face?
Poderia seguir o mesmo raciocínio do parágrafo anterior, jogando a culpa nos costumes da modernidade que nos influenciou (e de fato ainda influencia) mas não acho que ajude muito pensar no por que sem pensar em como mudar.Sem contar que por mais que tenhamos sido influenciados devemos, ao invés de querer controlar as coisas e as pessoas, começar a controlar a única coisa que temos por direito: nossa vida.Portanto, se um dia for atropelado por uma borboleta dê adeus a ela, ou melhor, um até logo.Se a chuva te pegar desarmado, não reclame dela, agradeça pela oportunidade de ser banhado com as suas gotas.
Tentando responder a pergunta inicial, ao falar do tempo chuvoso pensamos na lama que fica na rua, nos lugares que podem ser alagados, na escova que não pode cair sequer uma gotinha enfim, todo um contexto se forma em nossa mente.E, por mais que para que esse contexto aconteça seja necessário a presença da chuva, ela é somente um dos elementos que causa todo esse “transtorno”.Ela é um elemento que aliada a outros constituem o tempo chuvoso.Daí ser possível pensar numa diferença entre estes.Com isso, é a chuva que me fascina.São seus pingos.Sua delicadeza, mas também sua impetuosidade.Sua chegada sem aviso.Sua graça que encanta e limpa a quem se permite.Simplesmente a chuva que molha.